terça-feira, 3 de março de 2020

O FALSO CRISTO DA MANGUEIRA


Demorei a expressar minha opinião sobre o enredo da Mangueira no carnaval de 2020 para fazer isto baseando-me nos fatos. Para tanto, examinei a letra do samba enredo e assisti o vídeo do desfile. Percebe-se claramente, ao confrontá-los com os Evangelhos, que o Cristo do desfile da Mangueira não é o Cristo da Bíblia. Causa-me perplexidade e tristeza ler opiniões de evangélicos, até pastores, elogiando o desfile daquela escola de samba.

Vejamos, portanto, as principais incoerências:
  1. Logo no início do desfile, Jesus é apresentado com os seus apóstolos, e eles são funkeiros que são atacados pela polícia. Nada contra manifestações culturais, e nem podemos fazer generalizações absurdas afirmando que todo frequentador de baile funk tem ligação com o crime organizado. Mas é divulgado pela imprensa o que ocorre nestes bailes: tráfico e consumo de drogas, sexo livre e irresponsável, aliciamento e corrupção de menores. Traficantes promovem ou frequentam esses bailes, onde muitas vezes aparecem ostentando seus fuzis. Entre os apóstolos havia representantes de várias classes sociais: pescadores, funcionários públicos. Mas nenhum contraventor, beberrão ou dado a farras. Todos os apóstolos eram trabalhadores dedicados e íntegros (com exceção, é claro, de Judas Iscariotes, que roubava o dinheiro de Jesus e dos apóstolos).
  2. A ala das baianas exibiu mães de santo com um grande crucifixo às costas, como se estivessem crucificadas. À primeira vista seria uma apologia ao sincretismo religioso. Mas, segundo o comentarista do desfile, a ideia era denunciar que a umbanda tem sido vítima da intolerância religiosa. Quando uma facção de traficantes começou a depredar e fechar centros de umbanda, a mesma emissora de TV fez uma reportagem insinuando que a responsabilidade era dos evangélicos. Nós, evangélicos, defendemos a tolerância religiosa. Cada indivíduo tem o direito de professar livremente sua fé. E é oportuno lembrar o fato histórico de que os primeiros a proporem e defenderem este direito foram os anabatistas (precursores dos batistas) ainda no Século XVI. Entretanto, expressar nossa opinião sobre outras religiões ou formas de conduta não constitui intolerância religiosa, mas direito de expressão garantido em nossa constituição. Mas, muito pior que esta vitimização da umbanda, é substituir Cristo na cruz por qualquer outra pessoa.
  3. O carro alegórico que apresenta a imagem de Jesus crucificado carrega, em torno dele, representantes de minorias também crucificados. A ideia era apresentar o sofrimento destas minorias como vítimas da sociedade. Assim, Jesus é reduzido a mais uma vítima da sociedade, entre outras.
  4. A letra do samba enredo apresenta Jesus, entre outras coisas, com corpo de mulher. Trata-se, no mínimo, inverdade histórica. Os Evangelhos, melhores e mais confiáveis documentos históricos sobre Jesus, o apresentam como homem, sexo masculino. Mesmo sob o pretexto de lutar pelos direitos da mulher, não se deve tentar mudar a pessoa de Cristo.
  5. Jesus também é apresentado como “moleque pelintra do buraco quente”. Blasfêmia. Buraco Quente é o nome do lugar onde havia o ponto de venda de drogas mais movimentado da mangueira. Pelintra é o pobre que se veste de maneira a parecer de classe mais elevada, ou seja, que quer ostentar. Portanto, moleque pelintra é alusão ao traficante adolescente que vive a cultura de ostentação própria do tráfico. Foram longe demais ao identificar Jesus com os traficantes.
  6. Outro verso do samba enredo afirma que Jesus é encontrado “no amor que não encontra fronteiras”. Pelo discurso de “defesa das minorias” deste enredo, obviamente trata-se de alusão a todo tipo de relacionamento sexual ou afetivo, conforme proposto e defendido pela ideologia de gênero. Outra mentira absurda a respeito de Jesus. Ele prestigiou e família e o casamento heterossexual (o único ensinado na Bíblia). Condenou o divórcio praticado por motivos fúteis, e perdoou uma mulher adúltera mediante a condição de que não cometesse mais aquele pecado (João 2:1-12, Marcos 10:1-12, João 8:1-11). O apóstolo Paulo, seu fiel seguidor, condenou o homossexualismo como pecado (I Coríntios 6:9-10, I Timóteo 1:9-10). O verdadeiro amor fica dentro das fronteiras do plano de Deus, que nos criou como homens e mulheres, e instituiu casamento monogâmico e heterossexual como base da família para o nosso próprio bem. Se alguém prática outra forma de relacionamento afetivo e sexual, precisa arrepender-se, pedir perdão a Deus e buscar ajuda para seguir o que Deus planejou. Viver o “amor sem fronteiras” só conduz ao vazio, solidão e autodestruição. Corro o risco de ser acusado de homofobia, mas expressar esta opinião é meu direito constitucional. E esse esclarecimento é para o próprio bem daqueles que enveredaram por essas escolhas.
  7. Após os erros sobre a pessoa de Jesus, são apresentados erros sobre sua missão. O samba enredo declara que Jesus nasceu “de punho cerrado”, que devemos procurá-lo “nas fileiras contra a opressão”, e ao final Jesus dá a sua mensagem: “Favela, pega a visão, Não tem futuro sem partilha”. Ou seja, Jesus é apresentado como alguém que lutou contra a opressão, o exemplo para aqueles que devem hoje lutar pela “justiça social” do marxismo que prega, entre outras coisas, a justa partilha do capital por meio da revolução contra os opressores. Assim a esquerda justifica os assaltos a bancos nos anos setenta, a criminalidade, tráfico de drogas, etc. como formas “legítimas” dos oprimidos lutarem e “expropriarem” o capital dos “opressores”.
Fica muito claro que o Cristo apresentado não é o Jesus da Bíblia, mas o que foi engendrado pela Teologia da Libertação e é abraçado pela esquerda marxista, pois adequa-se perfeitamente à sua dialética de luta de classes. Essa “teologia”, embora professada pela ala progressista da igreja católica, não foi bem aceita entre a maioria dos evangélicos e passou por uma reformulação, originando a Teologia da Missão Integral que, entretanto, mantém a análise social marxista em sua maneira de pensar e definir a missão da Igreja.

Se pessoas ou instituições querem fazer protestos sociais e políticos, é seu direito. Mas não devem sacrificar a verdade pervertendo-a, especialmente a respeito de Cristo, mesmo sob a pretensa justificativa de que é uma “releitura”, ou “novo discurso”. A verdade se prende aos fatos e não a uma interpretação subjetiva.

O verdadeiro Cristo é o Jesus apresentado na Bíblia: Deus que se fez homem para, por meio de seu sofrimento na Cruz levando sobre si o castigo de nossos pecados, graciosamente dar perdão e vida eterna com Deus a todo aquele que crê nele de todo coração e se arrepende de seus pecados (Filipenses 2:5-11, João 1:1-14, Lucas 19:10, II Coríntios 5:19, João 3:16, Marcos 1:14-15, Atos 3:19). Ele próprio recusou ser feito rei terreno dos judeus e ensinou que seu reino é espiritual (João 6:15, Lucas 17:20). Ele ensinou o amor ao próximo, condenou a hipocrisia e o amor ao dinheiro, mas nunca ensinou revolução ou desrespeito às autoridades. Quando questionado se era correto pagar impostos aos dominadores romanos respondeu: dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:17-22).

O próprio Lenin afirmou que era necessário um “novo homem” para que os ideais da revolução marxista se concretizassem totalmente. Mas o marxismo não conseguiu produzi-lo. Somente o verdadeiro Cristo tem poder para nos fazer verdadeiramente capazes de amarmos e respeitamos o nosso próximo. Para isto é necessário que permitamos que Ele transforme todo o nosso ser. Assim, amaremos a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a nós mesmos (II Coríntios 5:17, Gálatas 5:16-25, Mateus 22:37-39).

Não precisamos de outro Cristo. É mais do que suficiente para todos nós o verdadeiro Jesus Cristo e sua preciosa graça salvadora e transformadora.
Dalton de Souza Lima