Em algumas ocasiões tive que aconselhar esquizofrênicos para que aceitassem o tratamento médico terapêutico. Tive que usar uma abordagem totalmente diferente. Uma das características da esquizofrenia é uma incoerência do indivíduo em seu discernimento, cognição e construção do pensamento. Muitos deles falam e escrevem coisas completamente desconectadas e crêem que é algo verdadeiro e até profundo. Trata-se de uma "realidade paralela" desprovida de lógica e objetividade.
Podemos observar que existem crentes e igrejas que sofrem de uma "esquizofrenia" teológica: crêem, ensinam e praticam doutrinas e pensamentos desconectados entre si e até mesmo antagônicos. Podemos citar alguns exemplos: Alguns crêem na graça salvadora de Jesus mas praticam o legalismo religioso como forma de se salvarem. Outros afirmam a autoridade e inerrância da Bíblia mas seguem pensamentos de homens. Também há os que afirmam a centralidade de Cristo, mas seguem teologias humanistas. E mais: os que professam o cristianismo mas abraçam ideologias repletas de pautas anticristãs.
A esquizofrenia teológica manifesta-se, não só no discurso, mas na vida das igrejas: tantas estão doentes apesar de momentaneamente numerosas. Falta consistência doutrinária, bíblica, e portanto, a coerência de uma vida cristã guiada pelo Espírito Santo. A verdadeira comunhão é substituída por aglomerações buscando entretenimento emocionante, as verdadeiras "celebrações" antropocêntricas. A missão de fazer discípulos e a vida em amor são substituídas pelo marketing religioso ou pelo ativismo social e ideológico. E todos querem permanecer de mãos dadas em nome de um cristianismo "inclusivo" em que há lugar para todas as contradições e incoerências em nome de um "livre pensar" humanista (que não é o dos princípios batistas, porque temos princípios e doutrinas). Desequilíbrio!
A verdadeira fé cristã é coerente, pois baseia-se nos fatos e ensinamentos da progressiva revelação de Deus (Hebreus 1:1-3). A revelação de Deus está fielmente registrada na Bíblia por obra de Deus (II Pedro 1:21). Sendo assim, a Bíblia é o paradigma de nossa fé, e portanto, de nossa missão e maneira de viver (II Timóteo 3:14-17). Assim, qualquer manifestação religiosa ou teológica que não esteja estruturada sobre a Bíblia não nos conecta com a verdade, e é esquizofrênica.
Precisamos ser coerentes com a nossa fé em Cristo por meio do entendimento e aplicação da Bíblia ao entendimento doutrinário que resulta em nossa práxis. E neste processo não há lugar para o "achismo" subjetivista daqueles que isolam textos de seus contextos para apoiarem suas próprias ideias preconcebidas. Cada texto da Bíblia tem o seu significado original (II Pedro 1:20). Portanto, ninguém pode construir a sua própria interpretação, mas sim deve buscar entender este significado original do texto (Salmos 119:18, 27, 125, Gálatas 1:6-9, II Pedro 3:16-17). Não é difícil concluirmos que uma hermenêutica saudável é essencial para uma fé cristã coerente. Precisamos praticá-la e ensiná-la em nossas igrejas.
Os especialistas em diversas disciplinas que dedicam-se a estudar a cultura atual são concordes em afirmar sua fluidez e sua capacidade de multiassimilação subjetiva. Coerência e objetividade não são mais importantes e há lugar para todas as narrativas e comportamentos. A esquizofrenia teológica adapta-se à esta cultura, mas contraria a Bíblia: "Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente" (Efésios 4:14). Precisamos, por meio da comunhão com Deus e do estudo da Bíblia, aplicar o discernimento necessário para permanecermos coerentes e fiéis à fé cristã. Não nos deixemos levar pelo pensamento filosófico, ideologias, influências culturais ou heresias. Permaneçamos firmes em Cristo para iluminar e salgar a cultura corrompida pelo pecado, e proclamar a salvação eterna a todas as pessoas.
pr. Dalton S. Lima