quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A PARÁBOLA DO GRANDE NAVIO DE 128 ANOS

        Havia um grande navio com 128 anos de idade. Apesar do tempo, ainda era um navio grandioso. Seus projetistas conceberam-no com base nos mais sólidos princípios, e os operários empenharam-se em fazer o melhor trabalho possível. Ao longo do tempo, outros operários dedicaram-se arduamente nas reformas que se faziam necessárias, sempre respeitando os princípios básicos de seu projeto. Suas tripulações, bem como seus comandantes, sempre foram escolhidos segundo os critérios da dedicação e da competência. Desde que fora lançado ao mar, este grande navio atraia cada vez mais passageiros, devido, principalmente, à grande segurança que ele oferecia.
        Mas, o tempo foi passando, e muita coisa foi mudando. Os engenheiros que cuidavam do navio não eram mais os mesmos, e a maioria deles achava que seu projeto era superado. Algumas peças estavam gastas e precisavam ser trocadas. “Mas, para que trocar peças superadas por outras também superadas? Vamos procurar soluções inovadoras e criativas”, pensaram os novos engenheiros. Alguns poucos engenheiros, contudo, defendiam que nenhuma peça deveria ser trocada, visando manter a originalidade do navio. E ficaram a discutir entre si quais seriam as melhores alternativas, enquanto o navio se depreciava, e já não funcionava tão bem.
        Apesar de tudo, os aposentos dos passageiros eram cada vez mais confortáveis e luxuosos, dotados de tudo que era mais atraente e moderno, pois os novos sócios do navio decidiram investir em um bom marketing para o navio, visto que agora existiam muitos outros navios bonitos, luxuosos, e divertidos na concorrência.
        A tripulação e o comandante já não eram mais escolhidos segundo os antigos critérios, mas agora eram escolhidos os que conseguiam enfeitar mais os seus próprios currículos e investiam em seu marketing pessoal (dizem até que uma certa sociedade secreta exercia grande influência na escolha da tripulação). Assim, os marinheiros e oficiais eram, em grande parte, homens e mulheres muito mais interessados em alcançarem projeção e melhores postos, do que em garantirem o bom funcionamento do navio e a segurança dos passageiros.
        Apesar de ainda ser bonito e majestoso, o grande navio de 128 anos de idade estava fazendo água. Mas a tripulação e o comandante não perceberam ou não se interessaram, pois estavam todos muito ocupados, ou discutindo reformas inovadoras e criativas para o navio, ou disputando quem seria o próximo comandante.
        E assim, muitos passageiros começaram a abandonar o navio em botes salva-vidas, enquanto outros se divertiam tranqüilamente com tudo que o navio lhes oferecia. Mas havia também aqueles que decidiram salvar o grande navio, mesmo que a maioria da tripulação não lhes desse ouvido. O final desta história? dependerá principalmente destes passageiros.

Dalton S. Lima