quarta-feira, 13 de julho de 2016

DIÁLOGO TEM LIMITES

            Como fruto de desdobramentos filosóficos e culturais, valorizamos o diálogo como fonte de conhecimento e de soluções. A princípio o diálogo é algo benéfico e saudável. Ele ocorre quando há duas partes sinceramente desejosas de se ouvirem mutuamente. Ambas ouvem e falam, ambas refletem no que ouviram. Há necessidade de boa vontade entre ambas as partes. Os objetivos do diálogo podem ser o consenso ou o aprendizado. Entretanto, há limites para o diálogo. Para que dialogar quando não há nada a aprender com o erro ou consenso algum a estabelecer (II Timóteo 3:14, II Coríntios 6:14-18)? O diálogo não pode ser supervalorizado e justificado em todas as circunstâncias. Se uma das partes está mal intencionada ou obstinadamente equivocada, o diálogo fica totalmente comprometido e é inútil ou até pernicioso.
            Assim, nem sempre o diálogo é desejável ou útil. Eva dialogou com a Serpente e pecou. Ela era astuta e seu propósito era leva-la a desobedecer a Deus (Gênesis 3:1-6). Ló tentou dialogar com os perversos habitantes de Sodoma chamando-os à razão e quase foi destruído (Gênesis 19:1-11). Os homens de Israel dialogaram com as mulheres moabitas e com elas pecaram, e provocaram a ira de Deus (Números 25). Neemias liderava a reconstrução dos muros de Jerusalém quando foi convidado para um diálogo com os inimigos Sambalate e Tobias. Respondeu que não iria, pois estava ocupado fazendo uma grande obra (Neemias 1:4).
            Há limites para o diálogo. O Livro de Provérbios contém advertências sobre a tentativa de dialogar com tolos (Provérbios 23:9, 26:8). Jesus afirmou que não devemos lançar pérolas a porcos (Mateus 7:6). Paulo ensinou que o homem faccioso e que despreza a doutrina deve ser exortado e depois evitado, e não ouvido em pé de igualdade em um diálogo (Tito 3:10-11, Romanos 16:17-18).
        Poder-se-ia retrucar a tudo isto questionando: Mas Jesus não dialogou com os pecadores e até mesmo com seus opositores? Jesus dialogou sim, com pecadores dispostos a ouvi-lo, e na posição de Mestre, para ensinar-lhes a necessidade de arrependimento dos pecados e confiança na misericórdia de Deus para salvação, revelando-se a eles como o Salvador prometido. Nunca vemos nos evangelhos Jesus parando para ouvir argumentos em favor do pecado. Quanto aos seus opositores,  quando procurado e acusado por eles, Jesus demonstrava a hipocrisia e obstinação deles, denunciando o seu pecado. Creio que isto não representa o tipo de diálogo que apregoam os “politicamente corretos” e muitos adeptos de teologias neoliberais.
              Se cremos que a Bíblia é a Palavra de Deus, só podemos dialogar com aqueles que estejam realmente dispostos a ouvi-la. Quem está consciente do que ela representa e a despreza ou a distorce não vai dialogar, mas tentar nos impingir seu ponto de vista pervertido. No mínimo, trata-se de perder tempo e, pior ainda, prestigiar um apóstata dando-lhe oportunidade para que ele sutilmente propague suas ideias  (Colossenses 3:8). 
Devemos dialogar com pecadores que também estejam dispostos a ouvir. E como Jesus fez: com amor, mas com o objetivo de ensinar-lhes o caminho da salvação. Certamente devemos ouvir e responder seus questionamentos, mas nunca para aceitar as suas justificativas para o pecado.
            Nossa regra de fé e prática é a Bíblia. Não podemos relativizá-la em hipótese alguma, nem mesmo em nome de um falso diálogo. Devemos amar, porém sem sacrificar a verdade (Efésios 4:15). A nós foi confiada a missão de sermos “coluna e firmeza da verdade” (I Timóteo 3:15). Temos a grande responsabilidade diante de Deus  de levar ao mundo tão carente a sua verdade,  e não de dialogar para ouvir o seu engano. Não nos deixemos levar pelas armadilhas do falso diálogo. Façamos como Neemias: recusemos o diálogo inútil e perigoso, pois estamos fazendo uma grande obra. Porque iríamos parar?

Dalton S. Lima

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