quinta-feira, 15 de agosto de 2024

O QUE É WORSHIP? COMO CHEGAMOS A ELE?

      Você entra na igreja e é envolvido por uma atmosfera musical que o faz sentir-se parte da multidão reunida. Além disso, luzes, cores e movimentos deliciam seus olhos e, música e cores, impressionam sua mente. Entre cada música há uma "ministração" emotiva. Você se deixa levar e vai do choro à euforia. É o estilo "worship", tão é voga nas igrejas ansiosas por serem contemporâneas ou por atraírem pessoas rapidamente.

        A Palavra da língua inglesa "worship" significa simplesmente "adoração". Mas aqui serve para identificar um estilo musical adotado hoje em muitas igrejas. De maneira geral caracteriza-se por:

1. Melodia pouco trabalhada, com poucas frases musicais que são muito repetidas. As letras também são curtas e repetitivas.

2. Geralmente são músicas lentas e de compassos simples, embora algumas tenham uma "ponte" antes do final com ritmo mais intenso.

3. Arranjo instrumental utilizando muitos pads de teclados e efeitos espaciais (principalmente reverbs "incrementados" e delay). Geralmente a harmonia é pobre, usando poucos acordes.

4. Muita influência do rock celta ou irlandês, principalmente do grupo U2.

5. A maioria das músicas são traduções de músicas americanas, embora já existam algumas compostas aqui.

        Acompanhei as transformações da música evangélica dos anos 60 até agora, chegando ao worship. Naquela época, a base do louvor nos cultos eram os hinos tradicionais de origem americana e europeia. São hinos riquíssimos, em sua maioria com letras de conteúdo bíblico muito edificantes e didáticas. Cantor Cristão e outros hinários eram usados. Os corais e quartetos também introduziam nos cultos a música negra americana, especialmente os maravilhosos "negros espirituals" (era assim mesmo que pronunciávamos).

        No final dos anos 60 surgiu um movimento nos EUA que influenciou muito a música evangélica: O Povo de Jesus. Eram ex hippies convertidos a Jesus que produziam música cristocêntrica, mas com uma riqueza musical contemporânea trazida dos estilos que antes tocavam e cantavam. Muitos começaram a compor nas igrejas americanas seguindo esse caminho aberto, como Kurt Kaiser, Ralph Carmichael e outros. Aqui no Brasil surgiu o grupo Vencedores Por Cristo, que começou a traduzir e gravar essa nova música de louvor americana.

        Nos anos 70 começa uma produção de música evangélica Brasileira. A Aliança Bíblica Universitária promoveu as músicas do Wolô, com letras de poesia riquíssima e melodias inspiradas nos estilos de nossa terra. Vencedores Por Cristo revolucionaram a música evangélica em 1976 com o LP "De Vento em Popa" com todas as músicas de estilos brasileiros e autores brasileiros, como Sérgio Pimenta, Guilherme Kerr, e outros. Seguiram-se outras gravações de VPC, sempre primando por letras bíblicas e qualidade musical, revelando outros compositores como Nelson Bomilcar, Jorge Rehder, João Alexandre, e outros. Tornaram-se uma poderosa influência no louvor das igrejas brasileiras. Logo em seguida surgiram o Grupo Rebanhão, Asaph Borba,  Jairinho e Paulo Cezar (Grupo Elo, depois Logos)  e muitos outros compondo louvor de qualidade. Os anos 80 seguiram nessa tendência.

        Em 1992 a Convenção Batista Brasileira lançou o Hinário Para o Culto Cristão. Novos hinos, muitos brasileiros, foram acrescentados aos cultos. Entretanto, àquela época várias gravadoras começavam a explorar comercialmente o "filão" evangélico. Rádios evangélicas também surgiram em várias cidades do Brasil, muitas delas com interesses puramente comerciais e políticos. O foco foi deslocado para o lucro financeiro, e consequentemente, gravadoras e rádios investiram "pesado" no meio evangélico. As gravadoras investiram muito na tradução e gravação dos sucessos norte americanos, principalmente de Ron Kenoly e outros do mesmo estilo. Era a música "Gospel" invadindo as igrejas e a música evangélica brasileira perdendo espaço.

        Com a expansão da Internet e popularização das redes sociais, a fonte de divulgação musical passou a ser os meios digitais da rede. Hoje essa é a grande influência musical nas igrejas. Modismos e tendências são rapidamente divulgados. Igrejas que importaram o estilo "worship", tidas como "referência", rapidamente o divulgaram em suas transmissões. Cantores comerciais apostaram no estilo e gravaram. Rapidamente tornou-se moda e muitas igrejas o adotam numa atitude pragmática, sem muita reflexão.

        É importante ressaltar que muitas características das mídia digitais estão presentes no estilo "worship": pouca elaboração e aprofundamento, muito estímulo sensorial, pouco estímulo ao raciocínio. Embora reconheça que algumas músicas fujam à regra, o "worship" pode ser definido como um estilo superficial e de grande apelo emocional. Basta uma análise musical e das letras para comprovar.

                                                 Pr. Dalton de Souza Lima

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